Benjamim

"O PRETEXTO para a história até se diria destinado a alimentar piadas de mau gosto: Benjamin é um humano que parece programado a viver ao contrário. Nasce velho e esclerosado, bebé mostrengo: a mãe não resiste ao parto, o pai leva-o para longe de casa e abandona-o na escada onde uma jovem mulher negra namora. Recolhido por um sentimento de solidariedade, Benjamin cresce e rejuvenesce. Lá para o fim, com 80 longos e bons anos de vida — e o corpo de um recém-nascido —, há-de entregar a alma ao criador como quem adormece na paz do último suspiro."



"Mas o argumentista Eric Roth (o mesmo de “Forrest Gump” e de “Munique”), em vez de se deleitar em explorar as curiosidades do fenómeno, avançou para um lugar de espanto: pôs o filme a reflectir sobre um dos grandes mitos românticos — o momento perfeito em que dois humanos encaixam de corpo e alma, e a isso chama-se amor. Normalmente, os filmes dedicam-se a fazer as personagens chegar lá ou demoram-se na degradação, nunca na perenidade de um sentimento (é que se um amor dura sem drama não há nada a contar e não há filme)."

"O que “O Estranho Caso de Benjamin Button” tem de mais peculiar é sabermos, pela lógica da cronologia, que a óbvia história de amor desenhada entre as personagens de Benjamin e de Daisy (sensivelmente da mesma idade) só pode acontecer num certo momento e não pode durar. (Mas há um instante justo, um momento certo?) A angústia da transitoriedade é uma espantosa trouvaille do filme (a transitoriedade é própria de ser-se humano, nós é que nos recusamos a acreditar; a lógica da fita confronta-nos com a inelutabilidade)."

"Todavia, a história de amor dura, mas desenhando contornos onde a felicidade não entra: e o filme convoca sentimentos ásperos, como a renúncia ou a dedicação sem retorno esperado. Em verdade vos digo: terá uma pedra no peito quem não se comover com a enorme sabedoria dos afectos (e não só na história de amor central: veja-se o segmento com Tilda Swinton, admirável)."


Ao contrário das outras histórias, o Benjamin e a Daisy só têm um "instante", que é muito pouco tempo, e isso sim é triste. Mas mais triste é saber que não vai durar! Eu cá achei isso.
Eu cá gostava de viver a vida ao contrário mas confesso não tinha pensado que isto poderia acontecer.
Se eu tivesse duas vidas...numa delas, sem dúvida, viveria ao contrário mas resta-me aproveitar esta,aproveitar os momentos perfeitos e andar atento pois corre-se o risco de passar ao lado dela.

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